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    O Menezes partiu mas ficará para sempre comigo

    Se há artigos que custam escrever, este seguramente é um deles. Não porque há escassez de dados, fatos ou histórias. Daria um livro, se tivesse de relatar as centenas de interações que tive com o tão conhecido na praça albergariense, Dr. Menezes, ou mesmo os seus 75 anos de vida neste mundo, que seguramente dariam diversos volumes. Mais que relatar biografias, histórias oficiais ou mesmo conquistas (com uma obra extraordinária que deixa), importa, neste momento, enaltecer o homem e a nossa amizade, que começou em 2010. Sendo um artigo de opinião, puxarei a brasa à minha sardinha, com um toque ao de leve de puro egoísmo, pois reivindico nestas palavras o direito de falar da nossa relação. É um pequeno privilégio que gostaria de não o usar, pelo menos para já, sinal de que ainda teríamos esta ilustre pessoa nas nossas vidas.

    Corria o ano de 2010 e através de uma amiga comum, entrei pela primeira vez no “Aconchego”. Tive o privilégio de fazer uma visita guiada pelas instalações da instituição de apoio às crianças e jovens, bem como, nesse dia, de conhecer as outras valências da AHMA. Desde esse início de primavera, há 14 anos, não mais deixei a AHMA e o Dr. Meneses. Já perdi a conta às dezenas de reportagens que fiz, às dezenas de entrevistas que me concedeu, aos almoços e aos cafezinhos ao final do dia, e aos milhares de chamadas que trocámos neste nosso trajeto. Sempre que precisávamos de alguma coisa um do outro, a resposta era sempre” …sim, vou já tratar disso”. E ia…e eu também. Estive seguramente envolvido em quase todos os seus projetos, nalguns com alguma participação mais ativa, noutros com a modesta contribuição de ideias ou de algum material promocional. Onde ele estivesse e precisasse seja do que for, eu alterava a minha agenda e ia ao seu encontro. Orgulho-me de poder dizer que o contrário também era uma realidade.

    Sou testemunha de muitas pessoas, nem só albergarienses, com parcas posses, que vinham todos os meses recolher a medicação, essencial à sua sobrevivência, oferta do Dr. Meneses. Sou testemunha de doações pessoais que ele fazia e das quais não queria nem 5 segundos de divulgação ou de reconhecimento. Sou testemunha de ações solidárias que ele fazia, do tempo que dedicava aos conhecidos e não conhecidos, apenas pelo prazer de ajudar o próximo. Sou testemunha também de algumas situações provocadas por pessoas de índole malicioso, alguns considerados homens de bem na sociedade, que construíam enredos pejorativos e tentavam boicotar muita da sua obra.

    Em muitas situações, éramos confidentes um do outro, partilhando histórias e desabafos. Era rara a semana em que não falássemos, raro o mês em que não estávamos juntos. Era parte essencial da minha vida e um porto seguro, em que recorria sempre que necessitava dos seus concelhos. Foi um homem sempre vertical, de palavra e de coragem. Enfrentava as vicissitudes da vida de frente e sem temer, sabendo que ainda muito teria a fazer pelos que mais necessitam. Deixa uma obra extraordinária, que deve orgulhar todos os albergarienses e dos quais, os vários executivos autárquicos, (e isto tem de ser dito) (Câmara e Juntas), das diversas forças políticas, sempre respeitaram e estiveram presentes, quando foram chamados a ajudar a erguer os projetos.

    É usual dizer-se que a obra supera muitas das vezes o seu construtor. As pessoas desaparecem, e a obra fica. Não é este o caso. O Dr. Menezes era um gigante, entre nós, simples humanos, que corremos todo o dia para satisfazer as nossas vontades e desejos. Ele corria para salvar vidas e atenuar a dor alheia. Ele tirava dos seus para dar aos outros. Pessoas destas são de uma raridade subliminar, tal como os mais preciosos diamantes, e é imperativo que o relembremos, o festejemos e façamos o que pudermos para perpetuar o seu nome para inspirar as próximas gerações vindouras e para que consigam ter exemplos de pessoas simples, que passaram um dia pelo nosso mundo, para fazer simplesmente o bem.

    O Menezes partiu, foi iniciar mais uma caminhada, e de certeza que está neste momento a fazer planos de como vai melhorar o sítio em que se encontra, ou simplesmente está a barafustar, pois devem querer que ele tire umas boas férias, mas espíritos como o dele não descansam, seja neste mundo, seja no outro. Por isso, quando repararmos em situações positivas na nossa vida ou na nossa cidade, dos quais não estávamos a contar, desconfiem se não tem dedo do nosso amigo, do meu amigo, José Manuel Torres e Menezes.

    Foi um privilégio e um prazer partilhar este plano existencial contigo. Guarda-me aí um lugar, bem perto de ti, para quando chegar a minha hora.

    José Vieira
    José Vieira
    Desde muito novo ingressou no mundo da comunicação social, em órgãos regionais, tendo sido fundador e diretor de 7 títulos, sendo atualmente diretor do jornal regional Aveiro TV e da rádio regional N16.

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