O atual período de contingência apresenta-se como um enorme desafio para o setor cultural tanto no que respeita à sua ligação com o público, como à sua própria subsistência.
Falamos de espetáculos, digressões, festivais e outros compromissos cancelados, com consequências devastadoras para o setor: investimentos sem retorno, corte abrupto de receitas e eventual perda de mão-de-obra, entre muitas outras. Tudo isto numa área já de si depauperada, onde as condições são por natureza precárias e os resultados financeiros pouco mais garantem do que a subsistência das estruturas.
É preciso, ainda, levar em consideração que o desaparecimento destas estruturas representará a perda de rendimentos para toda uma cadeia de profissionais, desde artistas a técnicos e fornecedores, assim como a perda de receitas para o restante tecido económico. Significará, também, uma perda duradoura da oferta cultural e comprometerá a capacidade, o esforço e o investimento de muitos anos na conquista e fidelização de públicos.
Devemos considerar que a cultura não abarca apenas música, teatro, dança, literatura, artes visuais ou outras manifestações artísticas, mas é também sinónimo e amparo de memória coletiva, cultura popular, pensamento, reflexão e desenvolvimento de conhecimento, numa relação cada vez mais estreita com a educação, base fundamental da estrutura social e da ética.
A cultura, durante a fase de isolamento social, assumiu um papel fundamental, tendo sido sentida e vivida como fonte de alegria, reflexão, catarse e aproximação, alimentando a esperança da humanidade.
O cenário descrito obriga a uma resposta adequada de quem pode contribuir para contrariar este ciclo recessivo, de modo a manter-se a oferta cultural na sociedade e a criar oportunidades para os artistas e estruturas do sector a um nível local e nacional.
No caso da Câmara Municipal de Aveiro, isto significa tanto a manutenção dos compromissos já firmados, como a encomenda de conteúdos adequados ao período atual, o que implicou um novo acordo e redesenho de programação para os próximos meses, assim como a implementação de um plano de ação através do universo digital com alocação dos meios necessários à sua concretização.
O panorama descrito nas linhas acima demonstra como o sistema cultural é frágil, pelo que se exige uma abordagem diferenciadora, que permita:
1- Constituir uma forte mensagem de união;
2- Transmitir a vontade clara de apoio e compromisso com a área cultural e o reconhecimento do papel estratégico da cultura no desenvolvimento social, económico e educativo do território;
3- Dar um sinal marcante e positivo de acção, encorajador para todo o espetro cultural e artístico;
4 – Fortalecer as relações atuais com os diferentes atores dos referidos sistemas, potenciando e criando ligações privilegiadas e de confiança com parceiros identificados (players a nível nacional, criadores, estruturas artísticas, espaços de criação, peritos nacionais e internacionais, entre outros) no âmbito do trabalho desenvolvido no Teatro Aveirense, no Plano Estratégico Para a Cultura 2019-2030, no projeto Aveiro 2027 – Cidade Candidata a Capital Europeia da Cultura, no Festival dos Canais, no Criatech e no Prisma, entre outras iniciativas;
5 – Colocar Aveiro, os referidos projetos e espaços culturais no palco e radar nacional e internacional.