Documento vai ser construído até final de 2023 e pretende valorizar a gastronomia regional como elemento diferenciador do território abrangido pela ADICES
O projeto Carta Gastronómica da Região, que está a ser desenvolvido pela ADICES – Associação de Desenvolvimento Local, foi apresentado em Águeda, numa sessão onde foram descritas as matrizes desta iniciativa que pretende valorizar a gastronomia das regiões abrangidas por aquela estrutura associativa.
A riqueza gastronómica dos cinco territórios incluídos na ADICES (Águeda, Carregal do Sal, Mortágua, Santa Comba Dão e Tondela) vai ficar descrita numa “carta” que deverá ser publicada até final de 2023 e que resultará de um processo de investigação que agora teve início.
Esta carta tem como objetivo, segundo a ADICES, “a valorização ampla da gastronomia enquanto ativo, único e inigualável, que se assume como memória e pertença local”. Mas mais do que um repositório das memórias gastronómicas dos “pais e avós”, pretende, com a sua exposição, “aumentar a visibilidade territorial” dos pratos e práticas gastronómicas regionais e fomentar “a realização de dinâmicas económicas locais” e novos negócios.
A ideia subjacente a este projeto passa por, em primeiro lugar, recuperar o património gastronómico deste território, através da criação de um inventário das receitas tradicionais, bem como pela identificação e caracterização dos produtos tradicionais e alimentares, que sejam identitários de cada uma das regiões, e dos vinhos das respetivas regiões vitivinícolas, sem esquecer as características imateriais de cada um dos cinco territórios.
Numa segunda fase, depois de todo o processo de recolha de informação e construção da carta gastronómica, a ADICES fará a divulgação das receitas (e todo o conteúdo associado, como os produtos e as suas origens) pelas instituições de ensino profissional com cursos nas áreas agrícolas, cozinha, restauração e bar, bem como junto da restauração local e da hotelaria, capacitando os recursos humanos para a promoção, difusão e aplicação destas práticas gastronómicas que identificam estes territórios.
A terceira e última fase do projeto passa pela impressão da Carta Gastronómica propriamente dita e a apresentação do documento junto da comunidade e decisores locais como forma de divulgação e sua difusão regional.
A Carta vai resultar de uma investigação de Olga Cavaleiro que, em Águeda, apresentou as matrizes do projeto, apelando aos contributos das Juntas e Uniões de Freguesia e das confrarias gastronómicas destes territórios para, nesta primeira fase, facultarem dados e contactos de pessoas “mais antigas e/ou conhecedoras” da comunidade que possam “dar rosto à gastronomia” local e explicar os processo e práticas gastronómicas de cada região.
“Acredito que o desempenho vai resultar num trabalho muito capaz, que vai demonstrar a diversidade existente em cada Município e na região alargada e que vai certamente enriquecer estes territórios”, disse Jorge Almeida, Presidente da Câmara de Águeda, na sessão de apresentação, que decorreu na sexta-feira passada, no Salão Nobre, e onde estiveram presentes algumas confrarias regionais e Juntas de Freguesia do Concelho.
Como referido, mais do que um repositório histórico das receitas de antigamente, esta carta pode ser um instrumento para aplicação e implementação na restauração e hotelaria locais como forma de promoção e diferenciação do território. “É um conceito que pode resultar em novos modelos de afirmação desta região, atraindo turistas e entusiastas pela gastronomia diferenciadora aqui existente”, continuou Jorge Almeida, acreditando que pode ser um “instrumento para cativar pessoas para este território e até repovoar o interior das regiões”.
Para Olga Cavaleiro, esta carta “é um conjunto de oportunidades” até do ponto de vista económico, demonstrando que a cozinha regional se pode impor “pela sua especificidade” e que provará que “a cultura pode ter valor económico”. A carta pretende “não apenas ver a gastronomia como a face visível para promover o território, o que aqui se come e bebe e se saboreia, mas como uma oportunidade de descobrir a sua identidade, os produtos e as práticas culturais, da pastorícia e agrícolas de cada região”.
João Figueiredo, Coordenador da ADICES, sublinhou que esta carta “é verdadeiramente o primeiro projeto que envolve os cinco concelhos num projeto uno” e que “vem reforçar a nossa estratégia para dar dignidade a este território e mostrar o que de melhor ele tem”. Será, defende, “um documento fundamental para afirmar a região”, para “cativar visitantes e fidelizar práticas diferenciadoras”.
Refira-se que este projeto, para além dos cinco Municípios que integram a Adices, está alinhada com as estratégias das Comunidades Intermunicipais da Região de Aveiro, Região de Coimbra e Viseu Dão Lafões, contando ainda com a recomendação da Comissão Vitivinícola da Bairrada e da Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas.
Na foto: João Figueiredo, coordenador da ADICES; Jorge Almeida, Presidente da Câmara de Águeda; e Olga Cavaleiro, investigadora